No país dos papa-açordas
o último paga a dispesa ...
Sejam magras, sejam gordas
São contas à portuguesa.
E que sabes tu, paspalhão, sobre os antepassados do Sultão?
Diz-se agora pelo deserto
Que quem o mesmo não fizer
Deixará de ser esperto
E camelo será por certo
Se assim Alá o que quiser.
Vai daí que, por razões
de bom aconselhamento,
Não tardaram os sultões
A tornar-se sabichões
E a render-se ao casamento.
A roda da fortuna não pára de girar
e eu tenho bem mais em que pensar!
Olha-me este pascácio! Quem julga ele que é?
Vá ler o horóscopio em borras de café!
Às suas ordens professor!
Como sempre estou ao seu dispor.
E o meu astral? E o meu astral?
Come o burro a palha e não te faça mal.
De tanto o espaço fitar
E nas estrelas ler o destino
Deu-se o astrólogo a sonhar
Toda a vida ser menino.
Não trouxe isso mal ao mundo
ou à arte de adivinhar...
Já que o que se ignora no fundo,
É saber os astros escutar.
Sendo assim, não é de mais
Deixa falar o coração,
Sempre que a luz dos cristais
Percorre as linhas da mão.
Se não se fizer justiça,
tratarei deste pilha-galinhas depois da missa...
Como não há sábado sem sol
nem domingo sem missa,
não há segunda sem justiça!
Por sinal, mal vai a justiça em Portugal!
O que se passa, Meretíssimo, é que este malandrão...
É amigo do alheiro até mais não!
Jura a pé junto que não roubou por mal?
Isso é o que quer ouvir do tribunal!
Depois da casa roubada
Nimguém escapa à tentação
De fazer da coisa piada
E do caso da boa acção.
No reino da fantochada
Anda tudo num pagode
D. Fugas, na vida airada,
Cada um, conforme pode!
Ninguém diga que está bem
Privado de liberdade,
Pois pena ter por alguém
Não é pena na verdade.
Entretenham-se os réus, então,
Enquanto a justiça passa
A pente fino a prisão
Dos que caem em desgraça.
É que muitos que a sorte
Enganou em boa hora
Poucos sabiam que a morte
Os leva a todos embora.